Editorial

A pandemia causada pelo vírus da COVID-19 impactou o mundo em vários aspectos gerando crises no âmbito social, cultural, econômico, político e de saúde. Diversos estudos apontaram para os custos físicos e emocionais do longo turno de trabalho em hospitais e ainda a preocupação com a exposição à COVID-191. Mesmo antes da pandemia, vários países já sofriam com as dificuldades no setor da saúde, incluindo falta de mão de obra qualificada e distribuição de profissionais, estimado em 18 milhões globalmente, especialmente em países emergentes2. Todos esses fatores sem sombra de dúvidas culminaram para o pico de uma síndrome de burnout em escala global. Dessa forma, fragilizando ainda mais o estado de saúde mental e físico desses trabalhadores, aumentando os níveis de estresse e deixando-os mais vulneráveis às infecções devido à queda da imunidade, inclusive a própria COVID-19.

Os efeitos adversos pós-infecção pela COVID-19 ainda estão sendo avaliados. No entanto, estudos têm demonstrado uma forte associação da infecção por COVID-19 e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Por exemplo, uma pesquisa Americana publicada na prestigiosa revista Nature Medicine (2022) evidenciou que os riscos de doenças do coração em sobreviventes da COVID-19 são substanciais, no mínimo um ano pós COVID-193. Além disso, comparado com os riscos de doenças cardiovasculares antes da pandemia, ficou claro que a severidade e os riscos de doenças cardiovasculares após a infeção por COVID-19 foram significantemente maiores.

Nessa edição, um estudo identifica e descreve a atual situação epidemiológica da pandemia pelo COVID-19 no Brasil. Já um outro estudo, também nessa edição, evidencia o risco cardiovascular da equipe interdisciplinar em unidade de terapia intensiva (UTI) segundo o Escore de Framingham. No primeiro, fica evidente as estatísticas catastróficas com alto índice de infecção e óbitos em decorrência da COVID-19. No segundo, conclui-se que uma equipe multidisciplinar de trabalho em uma UTI obteve baixo risco de desenvolver doenças cardiovasculares no período de 10 anos, baseado nos fatores de risco pelo o Escore de Framingham (por exemplo, idade, sexo, pressão arterial, tabagismo, colesterol, HDL, histórico familiar ou diabetes).

No entanto, dadas às recentes estatísticas e associações do risco aumentado de doenças cardiovasculares após a infecção aguda por COVID-19, além do esgotamento físico e mental dos profissionais de saúde, novas formas de avaliar o risco de doenças cardiovasculares em profissionais na linha de frente devem ser pensadas.  Novos fatores como o emocional, estresse, e infecção prévia por COVID-19 devem ser considerados ao analisar o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas em profissionais e população em geral, além dos riscos clássicos pré-estabelecidos pelo Escore de Framingham. 

Devido ao seu caráter de fácil transmissão por gotículas em suspensão, eventualmente toda população será exposta algum dia ao patógeno que causa a COVID-19. Portanto, é de fundamental importância todos redobrarem a atenção à saúde cardíaca, combatendo assim o desenvolvimento de doenças.

Cordialmente,

Simone Cristina da Silva Rosa

Referências

  1. Pandemia de COVID-19 afetou mulheres desproporcionalmente nas Américas - OPAS/OMS | Organização Pan-Americana da Saúde [Internet]. [cited 2022 Sep 22]. Available from: https://www.paho.org/pt/noticias/8-3-2022-pandemia-covid-19-afetou-mulheres-desproporcionalmente-nas-americas
  2. YHCW2021 [Internet]. [cited 2022 Sep 22]. Available from: https://www.who.int/campaigns/annual-theme/year-of-health-and-care-workers-2021/facts
  3. Xie Y, Xu E, Bowe B, Al-Aly Z. Long-term cardiovascular outcomes of COVID-19. Nat Med. 2022 Mar;28(3):583–90.